terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lula e o segredo de uma celebridade

O Brasil acaba de ganhar uma nova celebridade artística internacional --Sandra Corveloni ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes, o que só está abaixo do Oscar. Chamou-me a atenção o seu passado: migrante, de família pobre, moradora da periferia, com pouca escolaridade, estudante de escola pública. Como conseguiu ir tão longe? Tirando a área dos esportes, raros brasileiros conseguiram vir de tão baixo e subir tão alto --um deles é Lula.
Fui entrevistar Sandra apenas para confirmar minhas suspeitas sobre o segredo de seu sucesso --e confirmei. O talento não seria descoberto e lapidado se não houvesse outros estímulos, a começar da família, para superar tantos obstáculos. É o que ocorreu com Lula, que repete sempre como a mãe, analfabeta, era um estímulo permanente ao aprendizado.
O que tenho visto é que esse tipo de gente sempre tem um exemplo bem próximo, muito próximo, de um adulto com apego notável à importância do conhecimento. Durante a conversa, ela me falou de seu avô, um agricultor sem escolaridade que se tornou um veterinário autodidata --um livro velho de veterinária era sua bíblia. Também falou da inventividade de sua mãe, Clarice, que, apesar do pouco estudo, tinha uma eterna curiosidade e um rigor diante das obrigações escolares da filha.
Por fim, Sandra me contou de uma de suas primeiras professoras (Dona Gema), em escola pública, que fazia das aulas uma festa, sempre trazendo coisas novas.
Um dos segredos do sucesso de Sandra é um dos segredos do sucesso de uma nação --quanto maior for o envolvimento dos pais com a educação, estimulando e cobrando o aprendizado, envolvendo-se com escola, maior a chance de que seus filhos tenham mais disposição de encontrar seu talento e fazer disso uma riqueza coletiva.
Se todos os pais fossem mais exigentes, a escola pública não seria como é, porque os eleitores cobrariam mais dos governantes e usariam o voto para puni-los. É por isso que deixamos de produzir tantas Sandras.



Este texto é de Gilberto Dimenstein
Folha de São Paulo

Nenhum comentário: